terça-feira, 25 de outubro de 2011

Qual é o sentido da vida?


Por  Adriano Facioli*
O sentido da vida é que ela acaba.

Franz Kafka



Concebo, por enquanto, três respostas fundamentais:

1. O sentido da vida é a morte.

2. O sentido da vida é viver e se reproduzir.

3. O sentido da vida é uma construção eminentemente individual.

Por sentido pode-se entender direção específica, significação ou finalidade.
No primeiro caso podemos assim traduzir: qual é a direção para a qual a vida ruma, seu destino? Para onde vai esta vida? Neste caso a resposta mais concreta e simples é espantosa, porém, verdadeira (mesmo que em parte): o sentido da vida é a morte. Esta é a direção ou destino concreto de todo e qualquer ser vivo.

Contudo, o senso comum geralmente está perguntando por uma outra coisa. É mais ou menos a indagação de Paul Gauguin, a qual é o título de um de seus quadros, de 1897: "De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?”. Ou seja: qual é a função, a finalidade da vida? Por que e para que estamos aqui?

Em termos biológicos, é a resposta de número dois, a qual dei acima: o sentido da vida é viver, autopreservar-se, manter-se vivo, e se reproduzir, gerar descendentes. Uma compreensão hedonista ainda acrescentaria: o sentido da vida é o prazer. Tudo o que fazemos é em busca de prazer e em fuga da dor, do sofrimento. Mesmo nossos maiores sacrifícios teriam como meta última, seja real ou fantasiada, uma situação mais confortável, a satisfação de algum desejo ou impulso.

Contudo, estes sentidos universais, impostos pela biologia, não costumam satisfazer o sanguinário anseio metafísico das massas. As pessoas, de um modo geral, estão perguntando se há uma missão, um plano programado para nossa estadia nesta parca e frágil existência. E não querem ouvir uma resposta que seja negativa. Dizer que não há sentido algum para a vida, neste caso, é ofensa mortal.

Em termos racionais não é possível dizer que existe uma finalidade predeterminada intencionalmente para a vida de todas as pessoas. As pessoas que acreditam nesta tese, porém, insistem: “Não é possível. Não estamos aqui por acaso. Deve existir uma razão, um motivo”. Encontrar o motivo seria encontrar a causa, e esta não é certamente uma só. Nossa existência é um somatório de inúmeras e pequenas causas.

Com certeza, não estamos aqui por acaso: alguns fatores agiram como causa. Mas, e o acaso, não é justamente isso: um somatório de inúmeras e pequenas causas, ao ponto de já não podermos determinar o que ocorrerá? Um lançamento de dados é o exemplo clássico: determinar com precisão que número sairá é impossível. Pois não há uma única causa. São inúmeras e incontroláveis. Só para citar algumas: a força com que se arremessa os dados, a aspereza da superfície de contato, a altura do arremesso, a posição do dado nas mãos, a posição em que cairá, etc. Se pudermos controlar já não é acaso. A predeterminação, neste caso, é sempre uma probabilidade.

Mas o grande problema é saber aceitar esta impotência fundamental, coisa que a maioria das pessoas não é capaz: não podemos controlar, não podemos, nem nunca poderemos saber precisamente o que produz o que para que nossa vida tenha surgido tal como ela é. Ou seja, o acaso existe. E o grande drama é que ele não nega que tudo tem causa. Ele nega que podemos controlar as causas e produzir exatamente o que desejamos, ou descobrir uma finalidade transcendental e única para vida humana. Se não é possível saber precisamente porque estamos aqui, “de onde viemos”, pois não há uma única causa, também não podemos saber qual é a finalidade de nossa existência.
E é exatamente isso que deixa as massas desconfortáveis: não poder controlar, não poder explicar, não encontrar um sentido predeterminado, único e universal para a vida. Porém, após escrever esse texto, uma única coisa me vem à cabeça: a pergunta sobre o sentido da vida, ansiosa pela resposta de que haveria uma “missão” para cada um de nós, já é a indagação de quem não quer ouvir outra resposta que não esta mesma, a da “missão”.

A terceira resposta, no início do texto, diz o seguinte: o sentido da vida é uma construção eminentemente individual. Cada um dá o sentido que lhe cabe. A concepção de qual é a finalidade da vida irá variar de pessoa para pessoa (ou de grupos para grupos de pessoas) segundo as circunstâncias, possibilidades, concepções, costumes e sonhos de cada um. Assim, o sentido não é universal, mas particular. Não é dado, e sim construído.


 *Adriano Facioli é psicólogo pela USP, mestre e doutor em Psicologia pela UnB. Autor dos livros "Hipnose: fato ou fraude?" (Editora Átomo, Campinas, 2006) e “A ironia: considerações filosóficas e psicológicas” (Editora Juruá, Curitiba, 2010). Graduou-seem Psicologia pela USP de Ribeirão Preto em 1995. Fez mestrado e doutorado na UnB (1999 e 2003), relacionando temas da estética com questões da Psicologia. Sua dissertação de mestrado tem como título: "O poético e a clínica: da verdade à ambigüidade". Sua tese de doutorado, defendida em 2003, explorou o tema da ironia (a qual se transformou em livro). Premiado em diversos concursos literários. Como aluno de graduação, foi selecionado para todas as antologias promovidas pelo campus da USP de Ribeirão Preto das quais participou (de 1994 a 1996), do concurso Poetas de Gaveta, editado anualmente. Vencedor do IV Concurso de Contos e Poemas da Secretaria da Cultura de Ribeirão Preto em 1996. Selecionado para a antologia do Concurso Escriba de Poesias de Piracicaba em 1998 (concurso nacional). Selecionado para as antologias do Prêmio Sesc-DF de Poesia em 2003, 2006 e 2008. 3º lugar no II Concurso de Contos Machado de Assis do Sesc/DF de 2004 e selecionado para a antologia deste mesmo concurso em 2005.
Fonte: Rede PSI

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